PERFIL
VÍTOR SILVA MOTA, EDITOR DA NOVA GAIA INFANTIL E DA ASA INFANTO-JUVENIL.

Esta semana a Leya Sempre falou com o Vítor Silva Mota, Editor da Nova Gaia infantil e da ASA Infanto-juvenil. O Vítor nasceu no Porto, dois dias antes do Natal e praticamente toda a sua carreira profissional foi no Porto.

Em 1987 licenciou-se em Relações Internacionais Políticas e Culturais pela Universidade do Minho, em Braga, e no ano seguinte fez o Curso de Defesa Nacional, do Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa.

Em 1989 ingressou na Fundação Eng. António de Almeida, no Porto, com uma dupla função: a de Assessor Cultural do Presidente daquela Fundação e a de Director do Centro UNESCO do Porto, departamento autónomo da mesma instituição. A sua formação académica e os seus dotes de poliglota (fala fluentemente seis línguas e – nas suas próprias palavras – “arranha” uma sétima), cedo ditaram a sua dedicação quase exclusiva ao Centro UNESCO do Porto, tendo nos anos subsequentes trabalhado muito de perto com a sede daquela Organização Internacional, em Paris, e colaborado na implementação de muitos dos seus projectos, tanto em Portugal como no estrangeiro. É nessa altura que surge a sua primeira experiência editorial, a revista “Fontes UNESCO”, de que foi Director e cuja publicação mensal assegurou entre 1989 e 1992.

Entretanto, na Fundação Eng. António de Almeida, as suas funções de Assessor Cultural acabaram por proporcionar-lhe também o contacto com o mundo da edição, sendo da sua responsabilidade a coordenação de toda a actividade editorial daquela instituição entre 1990 e 1997.

Transferiu-se para a ASA em 1 de Setembro de 1997, onde ingressou como Assessor do Director-Geral. Mais uma vez, as suas faculdades linguísticas ditaram o seu futuro, tendo-lhe sido entregue, logo nesse ano, a responsabilidade pela coordenação de todos os projectos da Editora em regime de co-edição internacional. Dessa forma, teve oportunidade de trabalhar em áreas editoriais tão distintas como a Arte e o Desporto, a Música e o Turismo, a História e a Culinária, a Saúde e a Arquitectura, o Esoterismo e a Cultura, a Banda Desenhada e a Literatura Infantil. Foram anos de dura, mas muito rica, aprendizagem, que lhe valeram a nomeação, em Março de 2000, como Director Editorial – e, tal como nos inícios da sua vida profissional, com uma dupla responsabilidade: a da área de “Temas Gerais” e a da área da Literatura Infanto-Juvenil. Esta última, porém, foi aquela em que acabou por se especializar – até porque o mercado assim o exigiu – e é de facto nesta área que tem vindo a destacar-se, sendo unanimemente (re)conhecido, por exemplo, como um dos pioneiros da introdução do tão bem-sucedido conceito de licensing na edição infantil em Portugal.

Este editor que, nos tempos livres, pratica natação e bowling e tem especial gosto por puzzles e cinema, transitou para o Grupo Leya em 1 de Setembro de 2007 (curiosamente, quando se cumpriam 10 anos exactos sobre o início da sua carreira de Editor) e aí de novo se manifestou a duplicidade que tem sido apanágio da sua vida profissional. De facto, na sequência do convite que nesse sentido lhe foi formulado pela Administração do Grupo, é hoje responsável editorial por duas das marcas Leya: a ASA (catálogo infanto-juvenil) e a NOVA GAIA (catálogo infantil).

Encara o facto de trabalhar na Leya como uma excelente oportunidade de fazer parte de um projecto único e pioneiro no mundo da edição em Portugal. «É certo que a transição de uma Editora independente para um Grupo Editorial com a dimensão da Leya implicou uma série de adaptações pessoais e profissionais nem sempre fáceis de gerir», admite, «mas não é menos verdade que o contacto com as diferentes “culturas” trazidas para o Grupo pelas várias Editoras que o compõem se tem revelado uma experiência muito enriquecedora. E, por outro lado, a possibilidade que me foi dada de acumular a responsabilidade editorial da ASA e da NOVA GAIA tem constituído um desafio interessantíssimo e um verdadeiro teste às minhas capacidades profissionais», revela o editor, que não se esquece de deixar «uma palavra de muito apreço e de profundo reconhecimento pelo trabalho exemplar» da equipa que com ele partilha este desafio e à qual gosta de chamar «perdoe-se-me a presunção – a minha “Dream Team”. Também para eles a transição para a Leya nem sempre foi fácil, mas nem por isso esmoreceram no seu profissionalismo. Os (felizmente bons!) resultados até hoje alcançados no seio do Grupo pelas duas marcas sob minha responsabilidade são, antes de mais, reflexo da inexcedível dedicação desta verdadeira equipa de sonho!», explica o Vítor.

Questionado sobre dois ou três episódios de trabalho divertidos, o Vítor não hesita em partilhar duas situações, no mínimo curiosas: «O facto de falar várias línguas é naturalmente um motivo de orgulho, mas já me aconteceu ser também motivo de grande embaraço. É que, sobretudo nas Feiras Internacionais, o facto de mudar constantemente de língua torna-se muitíssimo cansativo e, por vezes, no final do dia é difícil distinguir umas línguas das outras. Pois uma vez, estava eu na Feira de Frankfurt, na última reunião de um dia que tinha sido bastante preenchido, e o meu interlocutor, que era americano e que eu tinha acabado de conhecer, termina a dita reunião com a seguinte frase (em espanhol): “Para a próxima fazemos ao contrário: eu falo em espanhol e você responde-me em inglês, ok?” Ao que parece, eu tinha começado a reunião em inglês e, a meio, sem me aperceber disso, tinha mudado para espanhol!»

Outra destas situações aconteceu no ano 2000, «comemoravam-se os 50 anos da famosa série Peanuts, de Charles M. Schultz. Os Proprietários da marca deram uma festa durante a Feira de Frankfurt para celebrar a efeméride e eu fui convidado para a mesma. Na noite da festa encontrava-me adoentado e sentia-me um pouco deslocado no meio daquelas centenas de pessoas, a ponto de, a determinada altura, ter resolvido vir embora mesmo antes do final da festa. Estava eu já a encaminhar-me para a porta do enorme salão quando, de repente, se apagaram todas as luzes e se ouviu um ensurdecedor rufar de tambores. Fiquei paralisado! No momento seguinte, acendeu-se um foco de luz na direcção da porta para onde eu me dirigia e eu vejo vir na minha direcção uma pessoa a cantar, de microfone nas mãos. O foco de luz acompanhou o seu trajecto e, a determinada altura, como eu estava no caminho, essa pessoa e o foco de luz passaram por mim! A pessoa em causa era nada mais, nada menos do que Tina Turner! Resolvi ficar para a ver e ouvir e ainda tive o privilégio de, a seguir a ela, ver e ouvir também ao vivo Joe Cocker! Foi uma festa inesquecível!»

Felizmente, a sua vida tem sido rica em desafios, tanto do ponto de vista pessoal como profissional. «É difícil dizer qual foi o maior desafio da minha vida, mas um dos maiores foi com certeza o facto de ter assumido a responsabilidade editorial pelo catálogo infanto-juvenil da ASA numa altura em que esse catálogo gozava já de um enorme prestígio e em que eu estava ainda a dar os primeiros passos no mundo da edição», conta.

O Vítor não se considera uma pessoa de grandes ambições e tenta viver um dia atrás do outro. Considera-se realizado em termos profissionais e talvez o seu maior desejo para futuro seja o de poder continuar a dizer o mesmo por muitos e longos anos!