
Quem é o Paulo? Como se definiria?
Olá! Sou ilustrador, arquiteto e astronauta nos tempos livres. Bem-vindos ao meu mundo. Tenho também a felicidade de ser mágico, e alpinista, e assim escalar enormes folhas de papel, e com algumas canetas, lápis e pincéis, transformá-las em algo maravilhoso e único. Desta forma, as coisas que antes apenas viviam dentro da minha cabeça, vivem agora alegremente nestas planícies brancas: um pequeno monstro com grande mau feitio; formigas; elefantes; aviões; dois meninos a quem decidi chamar João e Miguel; planetas; bolas de sabão; girafas; um tubarão zangado e um peixinho nervoso; foguetões; um gigante que se sentia só; gatos; dois cães a preto e branco; grandes ondas num mar de guache; barcos; uma locomotiva com rodas de carica; 1000 grãos de areia, ou seriam estrelas? Já nem sei bem; um passarinho muito triste e um pinguim violinista. Ah!… E casas, muitas casas.
Sou também, criador e criatura, personagem principal e secundário, explorador e habitante, de todos os universos que crio. Sentindo todos os dias, milhares de “loucas” borboletas na minha barriga, sempre que mergulho em mais uma grande aventura neste mundo só meu, onde vivo feliz.
Qual o livro da sua vida e porquê?
Seria impossível enumerar apenas um, porque já li, vi e desenhei muitos, mas nunca demasiados. Em cada livro sou uma pessoa diferente, vivo uma nova existência, e só quando o fecho é que volto a ser o Paulo, e esta é uma das maiores vantagens de um livro.
Como resposta a esta pergunta destaco o "Cosmos", de Carl Sagan, que me ensinou que a ciência é um brinquedo a descobrir, e que o universo é o nosso parque e recreio infinito. Mas também poderia ser "O Principezinho" de Saint-Exupéry.
Quando e como surgiu o gosto pelas artes? Como tem sido esta “aventura” como ilustrador?
Quando tinha 6 anos, verbalizei pela primeira vez - do alto dos meus gloriosos 110 cm – aquilo que gostaria de ser quando fosse fisicamente grande (reforço a palavra “fisicamente”, porque na realidade nunca voltaremos a ser tão Grandes como o fomos em criança): “Quando for grande quero desenhar casas, pintar livros para crianças e ser astronauta!”. Cresci, licenciei-me em arquitetura e ilustrei o meu primeiro livro aos 34 anos (intitulado “Chiu!”, foi co-escrito com a Mafalda Milhões e editado pela Bichinho de Conto, e qualquer semelhança com a minha família não é de todo pura coincidência).
É verdade que ainda não me tornei astronauta, mas como a cultura em Portugal é uma atividade extremamente lucrativa e acarinhada pelo poder político, sei que um dia vou ficar rico e vou poder comprar uma viagem até ao espaço sideral. Até lá, dou-me por muito feliz por andar quase sempre com a cabeça no lado oculto da lua.
Colocando as coisas na perspetiva desta pergunta, e apesar de ser aquilo que se pode chamar um “profissional da ilustração”, na verdade não me sinto como tal. O desejo de ser ilustrador vive em mim há tanto tempo que me sinto um pouco limitado ao usar o termo “profissão”. A ilustração, o ter permanentemente as mão sujas de tinta, faz parte integrante de mim enquanto ser humano, enquanto ser pensante que procura uma razão de existir. Sei que corro o risco de cair num discurso lamechas, pretensioso e até algo esotérico, mas quando me expresso graficamente, sinto que apenas estou a recordar.
Fontes de inspiração para o trabalho e para a vida?
Para o trabalho: Oliver Jeffers, Rebecca Dautremer, Stephen Hawking, Ludovico Einaudi, Mozart, Sigur Rós, Budismo, Carl Sagan, Fernando Pessoa, Hayao Miyazaki, os meus filhos, os filhos dos outros, Miró, Banksy, Os Gémeos, Matisse, Corto Maltese, o Surrealismo, o mar, o sol, dióspiros com canela, as nuvens, a lua, o Amor, as estrelas... (estava aqui o resto do dia, mas a sensatez diz-me para não o fazer).
Para a vida: porque a vida imita a arte que imita a vida, exatamente o mesmo que me inspira no trabalho.
Que mensagem, ou mensagens, gostaria de deixar a todos os novos ilustradores que começam agora a dar os primeiros passos?
Nada mais, nada menos do que as que considero serem fundamentais para uma qualquer atividade humana:
1. Começo obrigatoriamente por essa bela palavra que é o AMOR. Na vida nada funciona se não nos dedicarmos com um amor incondicional. A ilustração não é exceção. Quando estou a ilustrar, o dia passa lentamente lá fora, e eu nem me apercebo disso. Se tudo estiver a fluir, entro num estado alterado de consciência onde já não consigo distinguir se sou um careca a desenhar um personagem, ou se sou um personagem a sonhar com o Deus Careca que o está a desenhar. Esta é condição fulcral para tudo o que fazemos na vida… ama o que fazes, e nunca mais terás de trabalhar. Obrigado Confúcio. Gosto de ti.
2. Também é necessária PACIÊNCIA. Muita paciência. Essa é uma das palavras que mais repito quando vou às escolas. Parece fácil, mas não é, especialmente se tivermos em linha de conta que hoje em dia tudo parece acontecer de forma imediata. Arriscaria mesmo a afirmar que esse é um dos problemas que mais deteto nas crianças… desistem rapidamente se os primeiros resultados não corresponderem às expectativas, e como é óbvio, nunca correspondem. O problema da (im)PACIÊNCIA é agravado pela hipervalorização que se deu à palavra INSPIRAÇÃO. Fernando Pessoa escreveu “Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce”. É de facto uma frase sublime, escrita por um dos melhores poetas do século XX. Mas carrega em si um estigma… ou se é uma criatura inspirada, permeável a um qualquer poder divino, e tudo lhe floresce nas mãos de forma imediata e acabada, ou não se pertence a esse grupo restrito, e nesse caso nem vale a pena tentar a sua miserável sorte. Esta é a imagem que tem sido repetida até à exaustão na história, no cinema, na literatura, na poesia e na cultura pop em geral mistificando-a de tal forma que se tornou apanágio de meia dúzia de iluminados. Se algum dia me cruzar com a inspiração, ela encontrar-me-á a trabalhar. E isso leva-nos à terceira condição…
3. TRABALHO, que tem sempre duas faces:
a) Uma face invisível aos olhos de um observador exterior. Durante, dias, semanas, por vezes até meses, à exceção de algumas garatujas sem sentido, nada de muito concreto parece acontecer. Contudo, no interior, no centro de nós, uma tempestade elétrica permanente fustiga-nos sem dó nem piedade a mente, em busca de uma solução. Até que um dia - pode ser no duche ou até sentados no trono de loiça – a “magia” acontece. Do ponto de vista de um observador, esse é momento mágico, quase místico, onde um buraco azul se abre num imenso céu cinzento de nuvens, e ao som de trombetas angelicais, uma mão divina toca a fronte daquele que cria. A obra nasce. É exatamente aqui que reside o equívoco quanto à palavra INSPIRAÇÃO, porque do ponto de vista de quem cria, esse é apenas mais um momento que decorre de um trabalhoso e contínuo processo de reflexão, um momento em que o trabalho passará a ter uma…
b) …Face mais visível, e também muito trabalhosa. Porque a perseverança e a dedicação dão imenso trabalho. Se queremos desenhar um tubarão temos de o fazer até que as nossas mãos saibam exatamente como funciona um tubarão. E quando já o dominamos, podemos desconstruí-lo, torná-lo no nosso tubarão. Brincar com ele. Rir com ele. Mas tudo começa pelo desejo e pela teimosia. Samuel Beckett aconselhar-nos-ia a tentar. Falhar. Tentar novamente. Falhar novamente. Tentar melhor. Falhar melhor. Um conselho perfeito, porque de facto não há outro caminho.
4. Prestar muita ATENÇÃO a tudo o que nos rodeia. O Mundo esconde histórias nos lugares mais surpreendentes. Aliás, diria mesmo que o Mundo é uma imensa história da qual cada átomo é um personagem principal. Se prestarmos atenção a um grão de areia, iremos (re)descobrir o universo inteiro. A criatividade é como um músculo… treina-se. Um bom exercício é andarmos permanentemente com um caderno de desenho. Um suporte onde possamos desenhar/escrever as impressões que nos estimulam os sentidos. Podem ser colagens, rabiscos, borrões, qualquer coisa serve para nos expressarmos e dessa forma, ajudarmos o mundo a expressar-se. Como costumo revelar às crianças, este caderno pode até ter ser usado como uma arma contra aquele monstro que nos anda a chatear o sono e os sonhos… basta representá-lo com umas cuecas às flores. 100% garantido que não voltará a chateá-los. Um outro exercício que eu adoro é tirar fotografias como se estivesse a ilustrar uma qualquer história. Se prestarem bem atenção, irão perceber que a mais inócua e estéril paisagem pode ser fotografada de uma forma rica e estimulante. Tudo depende da perspetiva criativa com que decidimos observá-la.
5. Por fim, e consequência da palavra anterior, temos de aprender a LER NAS ENTRELINHAS. E este não é um conselho que se limite à ilustração. Considero mesmo que essa é uma das capacidades fundamentais para conquistarmos o espirito de análise e de reflexão, o saber pôr a causa que nos ajuda a manter a sanidade mental neste mundo cada vez mais alienado em que vivemos. A história principal é aquilo que mais depressa se apreende. Seja um livro, uma notícia num jornal, um post numa rede social, ou uma reportagem num canal de televisão. Mas é nas entrelinhas que se escondem as verdadeiras histórias, as mais ricas e interessantes. E por vezes as mais perigosas também, aquelas que ninguém quer ler. Essa é a verdadeira função de um ilustrador… descobrir as estórias que vivem nas entrelinhas de uma história, e contá-las graficamente.
Que hobbies tem?
São muitas as coisas que me fazem estremecer e tornam a minha vida numa imensa fonte de prazer: É bom estar com a minha família. Adoro ouvir música (e tentar aprender música, apesar de ter falhado até ao momento); Amo os livros e a leitura…são ótimos para voar; Adoro fazer surf (ou melhor, tentar fazer surf, pois ainda estou a aprender) com amigos, muito especialmente com o Marc Parchow, o meu companheiro de ondas. No final, não há nada melhor do que ficar com o sal na pele até à noite; Viajar é a melhor coisa do mundo; Cristalizar momentos e estados de espírito em fotografia; Aprender algo todos os dias, sempre; Correr que nem um desalmado com a Skye, no paredão de Oeiras... 10 km por dia, 3 vezes por semana. Observar a lua e as estrelas com binóculos; Procrastinar também sabe bem, apesar de quase sempre me arrepender mais tarde; Beber um bom vinho e comer um bom queijo ao som de Miles Davis ou de Tom Jobim (música de chuva, de acordo com o meu filho João).
Metas a longo prazo?
Tenho muitas. Sempre vi a ilustração como uma carreira, mas os projetos foram surgindo de uma forma fluída e orgânica. Nunca fiz outsourcing junto das editoras, nunca dei passos previamente programados, em grande parte porque tenho uma outra profissão paralela que me tem garantido um ordenado mensal e fixo. Mas a partir de certo momento, comecei a ter necessidade de ver o meu percurso na ilustração guiado por um fio condutor, uma estrutura que se vai montando a pouco e pouco, cujo todo deverá ser superior à soma das suas partes. Uma vez mais o universo provou ter um mecanismo de um relógio, pois foi durante essa tomada de consciência que me cruzei com a empresa Booktailors – Consultores Editoriais, mais precisamente na figura de Paulo Ferreira, com a qual estabeleci um contrato de agenciamento. Este facto está ainda a ser um enorme ponto de viragem na minha carreira. Quantos aos projetos, tenho de fato muitos. Mas só vou revelar o maior deles, um dia gostaria muito de poder viver unicamente do universo da ilustração e tudo o que o rodeia. Isso seria algo que me traria uma enorme qualidade de vida, não só a nível pessoal como familiar. E acima de tudo, seria fonte de uma enorme felicidade. Mas os tempos que se vivem são incertos e assustadores, muito especialmente para alguém como eu que nunca trabalhou a solo. Trabalhar por conta própria exige uma mudança de paradigma, uma transformação interna que exige tempo de maturação, o que não se coaduna com a velocidade com que as transformações sociais e económicas se vão sucedendo. Entrámos em modo de sobrevivência, e nestas alturas as decisões têm de ser tomadas de uma forma muito, muito cuidadosa.
Lema de vida: qual?
Para ser grande, sê inteiro nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.


Vencedora da Melhor Ilustração e Melhor História da Edição 2014/15 dos «Jovens Autores de Histórias Ilustradas».
1 - Quem é a Jasmim? Como te descreves?
Digamos que sou diferente todos os anos, acho que acontece a todos quando se está nesta fase da vida cheia de descobertas. Já fui a miúda esquisita da turma, já fui a rapariga que ficava sempre sozinha e era gozada, já fui muita coisa, agora sou a que se aceitou a si própria sem medos e está rodeada por pessoas incríveis que me fazem sorrir até nos piores dias. Acho que não sou muito diferente das outras pessoas da minha idade, mas tenho de admitir que gosto de me destacar e de me sentir diferente (de preferência num bom sentido).
2 - Quantos anos tinhas quando começaste a desenhar? E a escrever?
Hum...2 anos? Lembro-me de me fechar uma espécie de arrecadação minúscula onde se guardava o aspirador e desenhar nas paredes com lápis de cera. Mania que ainda hoje não consegui superar visto que tenho um veado de 2 metros desenhado na parede com pastel de óleo, a olhar pra mim o tempo todo...e bem...ele não está sozinho [riso].
Acho que comecei a escrever quando aprendi a escrever, costuma dar jeito. Mas falando a sério, sempre tive uma grande dificuldade com a escrita em termos ortografia, ainda hoje tenho e lido com eles todos os dias. Chego mesmo ao ponto de ter de pedir aos meus amigos que me corrijam, para ver se eu aprendo. Normalmente ajuda, pois tenho estado a melhorar, o que me deixa muito contente.
3 - O que é que a ilustração e a escrita significam para ti?
Hoje em dia não consigo viver sem nenhuma delas. A ilustração ajuda-me em muita coisa, estou por exemplo num curso profissional de Design Gráfico onde este género de "talento" dá bastante jeito e tem tendência a melhorar dada a quantidade de vezes que desenho nos cantos do cadernos ou em trabalhos manuais.
A escrita tem-se tornado cada vez mais importante, pois é a partir dela que eu mantenho o meu Blog e os meus seguidores, que diariamente têm vindo a crescer cada vez mais. Aproveito, desde já, para agradecer a todos, especialmente aos mais ativos que me dão o melhor feedback. Atualmente escrevo quase todos os dias, com o que se pode dizer ser uma escrita mais desleixada no (em caso de estarem interessados) www.omdtunc.tumblr.com . É lá que desabafo e ponho grande parte dos meus pensamentos e opiniões.
4 - Já sabemos que gostas de desenhar, ilustrar e pintar, assim como de escrever, mas queremos também saber quais as tuas temáticas favoritas?
É muito difícil de escolher, especialmente porque não são as únicas coisas que eu mais gosto de fazer, como por exemplo fotografia, ou vídeo. Eu tenho muitos gostos, mas a verdade é que não posso escolher um favorito, pois todos os dias são diferentes e faço o que me deixa mais feliz.
5 - Quem é o teu artista plástico (pintor, ilustrador) favorito? E o escritor? Se os conhecesses, o que é que gostarias de lhes dizer?
Sem dúvida uma pergunta curiosa, o que me põe a pensar, visto que cheguei à conclusão de que não tenho nenhum de todo. As minhas maiores inspirações são ou anónimas ou têm nomes muito complicados e só me aparecem à frente umas três vezes na vida. Grande parte vindas da internet ou de coisas que vejo na rua. Não há nada que me inspire mais de que tudo e todos.
6 - O que é que queres fazer quando terminares os teus estudos? Quais os teus projetos para o futuro?
Estou a pensar em ir para o estrangeiro e alargar o meu conhecimento, estudos, trabalhos, viagens, (o sonho de qualquer jovem). Infelizmente isto pode não acontecer, o que me deixa com algum medo, mas já me conheço bem o suficiente para saber que pelo menos um desses desejos vou conseguir realizar.
7 - Que mensagem gostarias de deixar aos novos participantes do «Jovens Autores de Histórias Ilustradas»?
Não tenham vergonha do vosso trabalho, muito pelo contrário, deixem que outras pessoas o vejam e peçam opiniões, coisa que eu tenho muita dificuldade em fazer, mas espero que vocês não! É extremamente importante que tenham orgulho no vosso trabalho, e que ele não seja só a vosso gosto mas ao de muitas outras pessoas. Não é possível agradar a todos, mas se a maioria do feedback que tiverem for positivo então estão num ótimo caminho e desejo a todos muita sorte!
8 - Como gostas de ocupar o teu tempo livre?
Enrolada num cobertor a comer gelado e a passear no Tumblr.
Ou isso ou a brincar com os meus amigos algures numa loja de brinquedos.
9 - Qual o teu maior sonho?
Ser uma inspiração e dar sorrisos a muitas pessoas neste mundo.
Ser a melhor versão de mim própria.
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